quinta-feira, 10 de julho de 2014

Penalty’s, sorte ou competência (o exemplo costa-riquenho e holandês)?


Os quartos de final do Mundial que ainda decorre ficaram marcados pelo momento que antecedeu a disputa nas grandes penalidades entre a Costa Rica e a Holanda, com o seleccionador holandês a substituir, no último minuto do prolongamento, o até aí guarda-redes Cilenssen por Krul. Atitude desrespeitosa para com Cillensen dizem uns, opção de génio dizem por outros. A meu ver, nem um nem outra. Preparação,  pesquisa e tomada de decisão. Um dos pontos muitas vezes ignorado no futebol atual, considerados por muitos como desperdício de recursos e tempo, mas que no controlo de pequenas variáveis pode mudar o rumo da partida a nosso favor – o scouting. Certamente que o plano de jogo de Van Gaal não passaria por deixar levar o jogo para penalty’s, principalmente tendo em conta o favoritismo da sua equipa. A verdade é que isso aconteceu, o possível “engolir em seco” foi pois uma decisão tomada em função das caracteristicas dos jogadores disponíveis e, porque não, do advesário.

Como realizar scouting em grandes penalidades?


Verdade que em termos de observação de jogo o principal ponto de mira será a forma de jogar da equipa adversária, em momento ofensivo e defensivo, e que as grandes penalidades são acontecimentos pontuais tendo em conta o tempo total de jogo. Porém, em competições que envolvam o possível desempate por grandes penalidades o seu estudo torna-se, a meu ver, necessário e obrigatório. Numa primeira fase, optaria por dividir a baliza em doze zonas (1-6 direia, 7-12 esquerda):


De acordo com as zonas definidas, identificar o máximo de situações possíveis de observar relativamente ao adversário, em situações o mais semelhantes com o jogo possível (situação do resultado, fase da competição, contexto) e determinar um perfil (técnico, tático, psicológico e físico) para cada atleta, seja ele de campo ou guarda-redes (explorar tendências, dados estatísticos como suporte à tomada de decisão).

Tendo em conta a divisão da baliza por zonas, é claramente mais fácil identificar a situação de execução em relação à de defesa. Aliás, muitas vezes a segunda acontece em função da primeira (a explorar no exemplo prático). Van Gaal após o jogo tem uma declaração interessante, em que indica que Krul consegue chegar aos dois postes (no jogo seguinte frente à Argentina foi notória a dificuldade de Cilenssen em defender penalty’s, ao longo da sua carreira em vinte tentativas sofreu o mesmo número de golos). A identificação destas características é igualmente importante no estabelimento do perfil do jogador.

Um dia como “Scouter” de  Van Gaal e Sabella (estudo prático)

A fonte de informação para este estudo foi curta, tem como referência apenas este Mundial (podia ter sido considerada a fase de qualificação e mesmo em termos de clube). A Holanda ia enfrentar a Costa Rica, que tinha eliminado a Grécia precisamente nas grandes penalidades. A equipa sensação do Campeonato do Mundo esteve irrepreensível tanto na execução (total eficácia) como na defesa (Navas foi decisivo). 


A partir da tabela em cima é possível concluir que apenas um jogador manteve a zona/direção de remate, sendo que esse remate foi um dos dois defendidos. Tendo em conta que apenas quatro jogadores executaram novamente a grande penalidade, conclui-se que 25 % manteve a direção (Ruyz). Enquanto no primeiro jogo (Grécia) a relação direita/esquerda (%) esteve em 80/20, contra a Argentina foi 20/80. Na suma dos dois jogos, a distribuição pelos lados é precisamente 50/50.


No que diz respeito ao estudo do guarda-redes (Navas) é indicada a zona para onde se direccionou e entre parenteses a zona onde o adversário colocou a bola. Se no jogo com a Grécia acertou 50 % do lado para onde foi direccionada a bola (25 % de eficácia), contra a Holanda manteve o nível em relação ao local (50 %), mas não foi capaz de deter qualquer remate.  Enquanto no primeiro jogo (Grécia) a relação direita/esquerda (%) esteve em 50/50, contra a Argentina foi 25/85. Na suma dos dois jogos, a distribuição pelos lados é 37,5/62,5.

Passando agora para a equipa técnica argentina, foi tido em conta a observação do jogo Holanda-Costa Rica. 


A partir da tabela em cima é possível concluir que apenas um jogador manteve a zona/direção de remate, sendo que esse remate foi um dos dois defendidos. Tendo em conta que apenas quatro jogadores executaram novamente a grande penalidade, conclui-se que 25 % manteve a direção (Sneijder). Enquanto no primeiro jogo (Costa Rica) a relação direita/esquerda (%) esteve em 75/25, contra a Argentina foi 25/75. Na suma dos dois jogos, a distribuição pelos lados é precisamente 50/50.


No que diz respeito ao estudo dos guarda-redes (Krul e Cillensen) é indicada a zona para onde se direccionaram e entre parenteses a zona onde o adversário colocou a bola. Se no jogo com a Grécia Krul acertou 100 % do lado para onde foi direccionada a bola (40 % de eficácia), contra a Argentina Cillensen baixou o nível em relação ao local (75 %), mas não foi capaz de deter qualquer remate.  Enquanto no primeiro jogo (Grécia) a relação direita/esquerda (%) esteve em 20/80, contra a Argentina foi 75/25. Na suma dos dois jogos, a distribuição pelos lados é 55/45.

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