segunda-feira, 21 de julho de 2014

Scouting: como avaliar um jogador? (por Freitas Lobo)

"Como avaliar um jogador? A questão não é simples. Porque os bons jogadores, esses, vemos todos. O olheiro e o guarda do campo. Com os maus também acontece o mesmo, são fáceis de ver. Difícil é ver o chamado jogador "normal" (que não faz grandes jogadas, nem grandes erros) e tem, afinal, escondida, muita qualidade.

O critério para o fazer não tem uma unidade de medida como velocidade, força, finta ou remate. Está relacionado com a inteligência, Isto é, saber como colocar-se em campo. Ter boa recepção de bola e tomar boas opções sobre o que lhe fazer. Passar, segurar ou avançar com ela. Se, depois, a jogada acaba bem ou mal, é outra questão. A detecção do bom jogador esteve antes, na opção tomada. No problema e na bola.

Quando foi ao seu treino de captação, diz Guardiola que pensou mas como vão reparar em mim, se não sou veloz, não finto, sou magro, não remato e só faço passes? Reparam. Porque o olheiro era sensível à…inteligência. Na maioria, são sensíveis à expressão física. Vêem os bons, os maus, mas escapam os normais que escondem…craques!"


in https://www.facebook.com/luisfreitaslobo?fref=ts

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Sessão de Treino - Marco Silva (Sporting CP)


O Sporting abriu hoje, pela primeira vez esta temporada, as portas do treino à comunicação social e adeptos, que gerou grande afluência a Alvalade. Foi portanto a primeira aparição no terreno de Marco Silva como treinador do Sporting, conduzindo uma sessão de treino com incidência nos aspectos físicos e táticos (movimentações ofensivas e situações de jogo reduzido). Por não ter estado no local não foi possível estabelecer a duração dos exercícios

FASE DE ATIVAÇÃO


Divisão do grupo de trabalho em três grupos de nove jogadores, incluindo guarda-redes. Foram realizados exercícios de mobilização geral com bola (direccionando passe e dirigindo-se para o respetivo local), velocidade  (escada de treino) e de retorno à calma com o meinho (um treinador por grupo com a função de manter sempre bola no grupo, dois jogadores sempre no meio).



FASE FUNDAMENTAL

Divisão do grupo em dois (13/12), com os guarda-redes a ocuparem a baliza alternadamente no exercício respetivo. Enquanto que um grupo efetuava um exercício de finalização sem oposição a partir de uma circulação tática (aqui sempre 13 jogadores – Cisse só participou neste), o outro desenvolveu manutenção da posse de bola em espaço reduzido, numa situação de 4x4x4.




Bola a  começar no jogador na posição de médio, que colocava no avançado em apoio frontal. Avançado devolve (com deslocamento para zona de finalização – importante temporizar), com o médio a colocar no extremo. Em overlap, entrada do lateral, sendo-lhe colocada a bola para posterior cruzamento e finalização por parte do avançado. Após finalização, passe realizado para a entrada da área onde o médio deverá rematar. Médio passa a avançado, avançado a médio. Mesmo processo para o lado contrário.

Situação de 4x4x4 em espaço reduzido, com treinador a colocar bola sempre que saia. Apelo à rápida recuperação de bola (indicador do que será de esperar em termos de método defensivo no modelo de jogo leonino). Não foi possível perceber se existia alguma zona limite para cada equipa em termos de posse.




Situação de GR+9x9+GR (uma equipa de fora), com joker ofensivo sempre presente (João Mário). Sempre que uma equipa colocava a bola fora, bola a sair do guarda-redes da equipa adversária (preocupação em sair pelos centrais, que mantinham largura – saída de zona preferencial: laterais). No momento sem bola, definição clara do momento de pressão (paralelismo com exercício anterior).


A equipa que não participava no jogo realizou trabalho de equilibrio (utilizando as bolas elásticas) e alongamentos dinânicos (exercícios sempre com bola).

FASE FINAL

Série de alongamentos dirigida pelo preparador físico.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Penalty’s, sorte ou competência (o exemplo costa-riquenho e holandês)?


Os quartos de final do Mundial que ainda decorre ficaram marcados pelo momento que antecedeu a disputa nas grandes penalidades entre a Costa Rica e a Holanda, com o seleccionador holandês a substituir, no último minuto do prolongamento, o até aí guarda-redes Cilenssen por Krul. Atitude desrespeitosa para com Cillensen dizem uns, opção de génio dizem por outros. A meu ver, nem um nem outra. Preparação,  pesquisa e tomada de decisão. Um dos pontos muitas vezes ignorado no futebol atual, considerados por muitos como desperdício de recursos e tempo, mas que no controlo de pequenas variáveis pode mudar o rumo da partida a nosso favor – o scouting. Certamente que o plano de jogo de Van Gaal não passaria por deixar levar o jogo para penalty’s, principalmente tendo em conta o favoritismo da sua equipa. A verdade é que isso aconteceu, o possível “engolir em seco” foi pois uma decisão tomada em função das caracteristicas dos jogadores disponíveis e, porque não, do advesário.

Como realizar scouting em grandes penalidades?


Verdade que em termos de observação de jogo o principal ponto de mira será a forma de jogar da equipa adversária, em momento ofensivo e defensivo, e que as grandes penalidades são acontecimentos pontuais tendo em conta o tempo total de jogo. Porém, em competições que envolvam o possível desempate por grandes penalidades o seu estudo torna-se, a meu ver, necessário e obrigatório. Numa primeira fase, optaria por dividir a baliza em doze zonas (1-6 direia, 7-12 esquerda):


De acordo com as zonas definidas, identificar o máximo de situações possíveis de observar relativamente ao adversário, em situações o mais semelhantes com o jogo possível (situação do resultado, fase da competição, contexto) e determinar um perfil (técnico, tático, psicológico e físico) para cada atleta, seja ele de campo ou guarda-redes (explorar tendências, dados estatísticos como suporte à tomada de decisão).

Tendo em conta a divisão da baliza por zonas, é claramente mais fácil identificar a situação de execução em relação à de defesa. Aliás, muitas vezes a segunda acontece em função da primeira (a explorar no exemplo prático). Van Gaal após o jogo tem uma declaração interessante, em que indica que Krul consegue chegar aos dois postes (no jogo seguinte frente à Argentina foi notória a dificuldade de Cilenssen em defender penalty’s, ao longo da sua carreira em vinte tentativas sofreu o mesmo número de golos). A identificação destas características é igualmente importante no estabelimento do perfil do jogador.

Um dia como “Scouter” de  Van Gaal e Sabella (estudo prático)

A fonte de informação para este estudo foi curta, tem como referência apenas este Mundial (podia ter sido considerada a fase de qualificação e mesmo em termos de clube). A Holanda ia enfrentar a Costa Rica, que tinha eliminado a Grécia precisamente nas grandes penalidades. A equipa sensação do Campeonato do Mundo esteve irrepreensível tanto na execução (total eficácia) como na defesa (Navas foi decisivo). 


A partir da tabela em cima é possível concluir que apenas um jogador manteve a zona/direção de remate, sendo que esse remate foi um dos dois defendidos. Tendo em conta que apenas quatro jogadores executaram novamente a grande penalidade, conclui-se que 25 % manteve a direção (Ruyz). Enquanto no primeiro jogo (Grécia) a relação direita/esquerda (%) esteve em 80/20, contra a Argentina foi 20/80. Na suma dos dois jogos, a distribuição pelos lados é precisamente 50/50.


No que diz respeito ao estudo do guarda-redes (Navas) é indicada a zona para onde se direccionou e entre parenteses a zona onde o adversário colocou a bola. Se no jogo com a Grécia acertou 50 % do lado para onde foi direccionada a bola (25 % de eficácia), contra a Holanda manteve o nível em relação ao local (50 %), mas não foi capaz de deter qualquer remate.  Enquanto no primeiro jogo (Grécia) a relação direita/esquerda (%) esteve em 50/50, contra a Argentina foi 25/85. Na suma dos dois jogos, a distribuição pelos lados é 37,5/62,5.

Passando agora para a equipa técnica argentina, foi tido em conta a observação do jogo Holanda-Costa Rica. 


A partir da tabela em cima é possível concluir que apenas um jogador manteve a zona/direção de remate, sendo que esse remate foi um dos dois defendidos. Tendo em conta que apenas quatro jogadores executaram novamente a grande penalidade, conclui-se que 25 % manteve a direção (Sneijder). Enquanto no primeiro jogo (Costa Rica) a relação direita/esquerda (%) esteve em 75/25, contra a Argentina foi 25/75. Na suma dos dois jogos, a distribuição pelos lados é precisamente 50/50.


No que diz respeito ao estudo dos guarda-redes (Krul e Cillensen) é indicada a zona para onde se direccionaram e entre parenteses a zona onde o adversário colocou a bola. Se no jogo com a Grécia Krul acertou 100 % do lado para onde foi direccionada a bola (40 % de eficácia), contra a Argentina Cillensen baixou o nível em relação ao local (75 %), mas não foi capaz de deter qualquer remate.  Enquanto no primeiro jogo (Grécia) a relação direita/esquerda (%) esteve em 20/80, contra a Argentina foi 75/25. Na suma dos dois jogos, a distribuição pelos lados é 55/45.